Dra. Alessandra

HIV/AIDS: Manifestações Dermatológicas

O HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) é responsável por causar a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), uma condição crônica e progressiva que compromete o sistema imunológico.

No Brasil, segundo o Boletim Epidemiológico de 2023, há mais de 1 milhão de pessoas vivendo com HIV, e, em todo o mundo, estima-se que 38,4 milhões estejam infectadas, de acordo com a UNAIDS.

Apesar dos avanços nos tratamentos antirretrovirais, o HIV continua a ser um dos maiores desafios globais em saúde pública, com suas manifestações clínicas impactando diversos sistemas do corpo.

Entre essas manifestações, as dermatológicas são particularmente relevantes, uma vez que a pele é frequentemente o primeiro local onde os sinais de imunossupressão se tornam visíveis.

As doenças de pele em pessoas vivendo com HIV, não apenas indicam a progressão da doença, mas também podem fornecer importantes pistas diagnósticas sobre o estado imunológico do paciente.

Quando o sistema imunológico é comprometido, o corpo fica vulnerável a infecções oportunistas, muitas das quais apresentam sintomas cutâneos.

A seguir, discutimos algumas das manifestações dermatológicas mais comuns em pessoas com HIV/AIDS, explorando infecções virais, bacterianas, fúngicas, condições inflamatórias e neoplasias cutâneas associadas à imunossupressão.

 

A- Infecções Virais Associadas ao HIV

As infecções virais são comuns em pessoas com HIV, principalmente devido ao enfraquecimento da imunidade celular. As infecções virais podem se manifestar de forma mais grave e recorrente do que em indivíduos com sistemas imunológicos saudáveis.

1.Herpes Simples e Herpes Zoster

O herpes simples (HSV-1 e HSV-2) é uma das infecções virais mais comuns em pessoas com HIV. Ele pode causar lesões dolorosas nos lábios (herpes labial) ou na região genital (herpes genital), sendo mais grave e persistente em pacientes imunocomprometidos.

A cicatrização dessas lesões tende a ser mais lenta, e as infecções recorrentes são comuns.

Além disso, o herpes zoster, causado pelo vírus da varicela-zoster (HHV-3), pode provocar erupções cutâneas dolorosas que seguem os nervos, resultando em uma condição conhecida como neuralgia pós-herpética, onde a dor persiste mesmo após a cicatrização das lesões.

Em pacientes com HIV, o herpes zoster pode ser mais disseminado e apresentar complicações mais graves.

2.Leucoplasia Pilosa Oral

Causada pelo vírus Epstein-Barr, a leucoplasia pilosa oral é uma condição que afeta principalmente as laterais da língua. As lesões são brancas, enrugadas e indolores, mas indicam uma significativa imunossupressão.

Embora não exijam tratamento imediato, essas lesões são sinais importantes de que o sistema imunológico do paciente está comprometido.

3.Papilomavírus Humano (HPV)

O HPV, um vírus sexualmente transmissível, também é uma preocupação para pessoas vivendo com HIV.

Os pacientes imunossuprimidos têm maior probabilidade de desenvolver infecções persistentes por HPV, o que pode resultar em verrugas genitais e outros tipos de lesões, como neoplasias intraepiteliais.

A infecção por HPV também aumenta o risco de desenvolver cânceres anogenitais e orais em indivíduos com HIV.

4.Molusco Contagioso

O molusco contagioso é causado por um vírus da família Poxviridae e se apresenta como pequenas lesões peroladas e elevadas na pele.

Em pacientes com HIV, essas lesões podem se espalhar amplamente, afetando áreas como o rosto e a região anogenital.

Além disso, as lesões tendem a ser mais resistentes ao tratamento em pessoas imunossuprimidas.

5.Citomegalovírus (CMV)

O CMV é outra infecção viral comum em indivíduos com HIV. Ele pode causar úlceras profundas na pele, além de infecções graves nos olhos, fígado e sistema nervoso central.

A infecção por CMV em pacientes com HIV é um indicador de imunossupressão grave e pode resultar em complicações significativas, especialmente quando afeta órgãos internos.

 

B- Infecções Bacterianas Associadas ao HIV

As infecções bacterianas também são mais comuns em pessoas com HIV, especialmente em estágios avançados da doença, quando o sistema imunológico está severamente comprometido.

1.Sífilis

A sífilis, causada pela bactéria Treponema pallidum, é mais comum em indivíduos com HIV.

Ela pode causar uma variedade de manifestações cutâneas, incluindo erupções nas palmas das mãos e solas dos pés durante a fase secundária da doença.

A coinfecção com HIV pode tornar a sífilis mais difícil de tratar, e as complicações neurológicas podem ser mais frequentes e graves.

2.Angiomatose Bacilar

A angiomatose bacilar é causada pelas bactérias Bartonella henselae ou Bartonella quintana.

Essa condição resulta em lesões vasculares na pele, que muitas vezes são confundidas com o sarcoma de Kaposi.

As lesões são dolorosas e podem sangrar facilmente, sendo um indicativo de imunossupressão severa em pessoas vivendo com HIV.

 

C- Neoplasias Cutâneas Associadas ao HIV

As neoplasias, ou tumores, também são comuns em pessoas com HIV devido à imunossupressão. Esses tumores podem se manifestar tanto na pele quanto em órgãos internos e são frequentemente sinais de que o HIV está em um estágio avançado.

1.Sarcoma de Kaposi

O sarcoma de Kaposi é um dos cânceres mais associados ao HIV/AIDS. Ele é causado por uma coinfecção com o vírus herpesvírus humano 8 (HHV-8).

Esse tumor se apresenta como lesões arroxeadas, vermelhas ou marrons na pele, mucosas ou órgãos internos.

O tratamento antirretroviral eficaz reduziu significativamente a incidência do sarcoma de Kaposi, mas ele ainda é um sinal importante de imunossupressão grave em pacientes que não estão em tratamento ou que têm falha terapêutica.

2.Linfomas Não-Hodgkin

Os linfomas não-Hodgkin, um tipo de câncer que afeta o sistema linfático, também é comum em pacientes com HIV.

Esses linfomas podem se manifestar na pele como nódulos ou lesões ulceradas, e a presença desses linfomas é frequentemente um indicador de progressão grave da doença.

 

D- Infecções Fúngicas Associadas ao HIV

As infecções fúngicas são outra categoria importante de doenças que afetam pacientes com HIV, especialmente aqueles com imunossupressão significativa.

1.Candidíase

A candidíase, uma infecção causada pelo fungo Candida, é uma das infecções fúngicas mais comuns em pessoas com HIV. Ela afeta principalmente a cavidade oral, onde pode causar aftas dolorosas e dificuldade para engolir.

A candidíase oral é um marcador clínico precoce da imunossupressão e pode ser um sinal de queda na contagem de células CD4.

2.Dermatofitoses

As dermatofitoses, infecções fúngicas superficiais da pele, cabelo e unhas, também são mais frequentes e graves em pacientes com HIV. Elas podem causar descamação, coceira intensa e, em casos mais graves, disseminação para outras áreas do corpo.

3.Micoses Profundas

As micoses profundas são infecções fúngicas que afetam não apenas a pele, mas também órgãos internos. Elas são especialmente preocupantes em pessoas com HIV, pois o sistema imunológico enfraquecido tem dificuldade em combater essas infecções.

– Histoplasmose: Causada pelo fungo Histoplasma capsulatum, a histoplasmose pode afetar os pulmões e se disseminar para outros órgãos, incluindo a pele. Em pacientes com HIV, ela pode causar úlceras e placas na pele.

– Criptococose: Provocada pelo fungo Cryptococcus neoformans, essa infecção pode causar meningite fúngica e lesões cutâneas semelhantes a celulite ou pústulas.

– Esporotricose: Causada pelo fungo Sporothrix schenckii, a esporotricose pode causar nódulos ulcerados na pele e, em casos graves, se disseminar para órgãos internos.

– Paracoccidioidomicose: Endêmica na América Latina, essa infecção fúngica pode causar úlceras dolorosas nas mucosas orais e lesões disseminadas na pele.

 

E- Dermatoses Eritêmato-descamativas e Farmacodermias

As dermatoses eritemato-descamativas, como a dermatite seborréica e a psoríase, também são comuns em pessoas com HIV.

A dermatite seborréica, caracterizada por placas vermelhas e escamosas, pode afetar áreas como o couro cabeludo e o rosto.

Já a psoríase, uma condição inflamatória crônica, pode se agravar devido à imunossupressão.

Além disso, as farmacodermias, reações adversas a medicamentos, são mais frequentes em pacientes HIV-positivos, devido à complexidade do tratamento antirretroviral. Essas reações podem variar de erupções.

 

Importância dos Sinais Dermatológicos no HIV/AIDS

As manifestações dermatológicas desempenham um papel crucial tanto no diagnóstico precoce quanto no monitoramento da progressão do HIV/AIDS.

Alterações cutâneas podem ser os primeiros sinais de que o sistema imunológico está comprometido, permitindo a identificação precoce da infecção pelo HIV em muitos casos.

Além disso, o surgimento ou agravamento dessas condições pode indicar a necessidade de ajustes no tratamento antirretroviral ou de intervenções específicas para tratar as doenças oportunistas.

Com o advento do tratamento antirretroviral altamente eficaz, muitas dessas complicações dermatológicas se tornaram menos comuns, especialmente em pacientes que conseguem manter a contagem de células CD4 em níveis elevados.

No entanto, ainda é fundamental que pessoas vivendo com HIV recebam acompanhamento dermatológico regular, já que a pele pode fornecer importantes pistas sobre a saúde geral e a eficácia do tratamento.

Espero que tenha gostado de nossa matéria!

O nosso intuito é fornecer informações importantes, esclarecer dúvidas, para o público em geral. Esse tema é bastante relevante, visto que o HIV ainda continua a ser um dos maiores desafios globais em saúde pública, com suas manifestações clínicas impactando diversos sistemas do corpo.

Muito obrigada!

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